domingo, 21 de dezembro de 2008

Parasitas versus Esforçados

Parasitas versus Esforçados

Por Ralph J. Hofmann

Lembrei-me hoje do livro "Atlas Shrugged" da Ayn Rand. O livro, assim como outros da autora é citado muitas vezes pelos verdadeiros liberais, os que acham que as raias da razão já foram ultrapassadas em muito, que o cuidado com nossos semelhantes desvalidos criou uma cultura parasitária, com as pessoas comodamente refesteladas sem fazer um único esforço para melhorar sua sorte.

No livro as pessoas que fazem acontecer, cansadas de serem julgadas, desprezadas e exploradas se retiram uma a uma, discretamente para um lugar secreto em montanhas cercadas por florestas levando tudo que necessitam para lá ficar por até um século em relativo conforto, na companhia de pessoas estimulantes e arrancando parte de seu sustento da natureza.

À medida que se afastam de seus negócios e cargos de destaque o único comentário das pessoas que percebem seu sumiço é: "Já vai tarde". Só que simplesmente desaparecem após deixar seus assuntos em dia.

Um dia acontece uma verdadeira crise. Procuram a experiência e sabedoria dos que normalmente viriam salvar a situação. E aí eles descobrem que as verdadeiras lideranças não estão mais disponíveis. Nunca mais estarão disponíveis.

Esta por si só é uma excelente explicação da globalização. Como uma grande empresa pode depender de ter seus lucros taxados eternamente em 40% sem receber de volta a devida compensação em serviços. Precisa ser menos brasileira e mais global. O mero fato de ter o direito a um passaporte brasileiro, uma bandeira, verdes florestas, céu de anil e um hino nacional lindo não é mais o suficiente.

A história industrial, começando com Mauá, está cheia de incidentes em que empresários acreditaram quando o governo disse: “ Eu garanto!” e após dois anos disse: “ Te segura no pincel que vou precisar da escada!”

Como um governo pode criar uma situação em que advogados e parentes de políticos altamente colocados possam em quatro anos amealhar fortunas comparáveis às realizações de três ou mais gerações de empresários de uma família.

Como se pode conviver com a situação em que um sujeito inspirado pode criar uma pequena oficina, mas se quiser aproveitar uma idéia ou talento e expandir isto para uma média empresa, na prática o acúmulo de obstáculos, seja burocráticos seja sistemas de contabilidade (por mínimos que sejam), miríades de impostos injustificáveis podam sua possibilidade de crescimento e entravam o aproveitamento de seu talento.

Isto numa sociedade em que as finanças e o fluxo de valores estão tão controlados que não é mais possível o sujeito iniciar-se numa economia paralela e graduar para um empresariado sério.

Examinem os projetos de pequenas e médias empresas legalizadas vetadas pela assistência técnica do SEBRAE para ver que mais da metade dos mesmos, muito mais que a metade dos mesmos, numa simulação séria não se justificam, pois os custos de viver na legalidade os colocam fora de mercado.

Na realidade nosso governo finge que não entende a situação. Finge que fica chocado quando 80 % das pequenas empresas falha antes do primeiro ano. Mas consegue enterrar o bom senso e trata de financiar regiamente apenas as grandes empresas donde sabe que os lucros mesmo que não estejam disponíveis num ou outro ano em algum momento cobrirão os empréstimos. Os pequenos e os médios são uma pequena percentagem. Mera figuração.

Não satisfeito com isto, o Presidente, ”O Alérgico a Leituras”, finge acreditar naqueles seus assessores que lhes apresentam teses confortáveis. E num momento de crise mundial entoa em canto gregoriano: “Nenhum empresário precisa despedir um sequer empregado”, e o coro de sicofantas numa segunda voz o acompanha como se nisso acreditasse.

Lembram do primeiro choque do petróleo? O mundo inteiro racionava petróleo. O governo brasileiro (Delfim Neto) disse que tudo estava equacionado, confiando no fato de que os combustíveis no Brasil custava 50% mais do que devia. Mas em três meses o barril de petróleo que custava em 1973 US$ 3,00 não só dobrou como passou o ano de 1974 subindo chegando aos US$ 12,00.

Os anos passam, os regimes se sucedem e Lula diz que não haverá crise nem há qualquer justificativa para o desemprego. “Me engana que eu gosto”.

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